
Casa Cunhadora de Cuiabá (Mato Grosso)
1. Introdução
A Casa Cunhadora de Cuiabá foi uma das mais importantes oficinas de cunhagem de moedas durante o Brasil colonial, especialmente no período em que a mineração de ouro no centro-oeste brasileiro demandava soluções logísticas e econômicas para manter o controle da circulação monetária. Instalada em uma região distante dos centros administrativos coloniais, sua fundação foi estratégica para organizar a economia local e evitar a escassez de numerário.
Este artigo apresenta o contexto histórico, o funcionamento, as moedas produzidas e a importância dessa casa cunhadora para a história econômica e monetária do Brasil.
2. Contexto Histórico
2.1 A Mineração em Mato Grosso
A descoberta de ouro na região de Mato Grosso, no início do século XVIII, atraiu milhares de aventureiros, bandeirantes e comerciantes. As minas de Cuiabá rapidamente se tornaram importantes para a Coroa Portuguesa, gerando significativa receita com impostos e quintos sobre o ouro extraído.
A grande distância entre Cuiabá e o litoral dificultava o envio de moedas para a região e o transporte de ouro até a Casa da Moeda do Rio de Janeiro. Diante dessa dificuldade logística e da intensa circulação de ouro em pó e barras na economia local, a instalação de uma casa cunhadora se tornou essencial.
2.2 Criação da Casa Cunhadora de Cuiabá
A Casa Cunhadora de Cuiabá foi criada oficialmente em 1748, por alvará régio, como parte da política da Coroa de descentralizar temporariamente a cunhagem de moedas para atender aos núcleos mineradores. Sua função era transformar o ouro extraído nas minas locais em moedas oficiais do reino, evitando a evasão fiscal e a circulação de numerário clandestino.
3. Funcionamento e Estrutura
3.1 Funções Principais
A Casa Cunhadora de Cuiabá tinha como atribuições:
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Receber o ouro bruto ou fundido proveniente das minas da região.
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Cunhar moedas oficiais em ouro, segundo padrões estabelecidos pela Coroa.
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Fiscalizar e controlar a circulação monetária e os pagamentos de impostos e tributos locais.
3.2 Estrutura Administrativa e Operacional
A casa possuía:
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Oficinas de fundição e cunhagem.
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Armazéns e cofre para depósito de ouro.
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Funcionários régios, como ensaiadores, guardas, tesoureiros e ourives.
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Supervisão de um oficial nomeado diretamente pela Coroa, garantindo a lisura do processo.
4. Moedas Produzidas
A Casa Cunhadora de Cuiabá se destacou pela cunhagem de moedas de ouro, conhecidas como moedas de série colonial brasileira.
4.1 Moedas de Ouro
Entre as moedas cunhadas destacam-se:
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Meia peça (2.000 réis)
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Peça de 4.000 réis
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Peça de 6.400 réis (dobrão) — uma das moedas de maior valor do período.
As moedas levavam as siglas C ou CBA para identificar sua origem, além das marcas da Coroa e brasões reais.
5. Importância Econômica e Fiscal
A Casa Cunhadora de Cuiabá teve importância estratégica e econômica significativa:
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Facilitava o comércio local, ao disponibilizar moeda circulante para transações na região mineradora.
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Garantia o recolhimento de impostos, sobretudo o quinto (20% do ouro produzido), diretamente na origem.
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Reduzia o risco de evasão fiscal, comum quando o ouro circulava clandestinamente.
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Evitaria o transporte perigoso e dispendioso de ouro até o Rio de Janeiro para cunhagem.
6. Encerramento das Atividades
A Casa Cunhadora de Cuiabá encerrou suas atividades em 1769, quando a Coroa decidiu centralizar novamente a cunhagem no Rio de Janeiro e Salvador, considerando que a atividade mineradora na região começava a declinar e o custo operacional da casa deixava de se justificar.
As moedas cunhadas em Cuiabá permaneceram em circulação durante muito tempo e, hoje, são consideradas valiosas peças numismáticas pela sua raridade e pelo contexto histórico em que foram produzidas.
7. Legado Histórico
A Casa Cunhadora de Cuiabá representa um importante capítulo da história monetária brasileira:
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Reflete a política descentralizada de cunhagem em regiões mineradoras durante o ciclo do ouro.
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Destaca o papel estratégico de Cuiabá na economia colonial brasileira.
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Deixa um importante legado numismático, com moedas raras e cobiçadas por colecionadores.
Suas emissões são testemunho das estratégias fiscais e administrativas da Coroa para manter o controle sobre as riquezas minerais do interior do Brasil.
8. Conclusão
A instalação e funcionamento da Casa Cunhadora de Cuiabá evidenciam como a Coroa Portuguesa adaptava suas políticas econômicas às necessidades regionais. Mesmo em regiões remotas, o controle monetário era essencial para assegurar a arrecadação e evitar a evasão fiscal.
Embora temporária, sua existência marcou a história econômica de Mato Grosso e deixou para a posteridade moedas raras, que ajudam a contar a história do ciclo do ouro e da economia colonial brasileira.
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