
Casa Cunhadora de Recife (Pernambuco)
1. Introdução
A Casa Cunhadora de Recife foi uma das unidades responsáveis pela produção de moedas no Brasil durante o período colonial. Localizada em um dos mais importantes centros comerciais e estratégicos do Brasil holandês e português, essa casa teve papel determinante na emissão de moeda circulante para a região nordeste, especialmente em Pernambuco e áreas vizinhas.
Este artigo apresenta o contexto histórico, as funções, as moedas produzidas e a relevância econômica dessa unidade para a economia colonial brasileira.
2. Contexto Histórico
2.1 A Importância de Pernambuco na Colônia
Desde os primeiros tempos da colonização portuguesa, Pernambuco destacou-se como uma das regiões mais produtivas e lucrativas para a Coroa, sobretudo devido à produção de açúcar, algodão, tabaco e à sua posição estratégica para o comércio atlântico. Recife, capital da capitania, era um porto movimentado e um centro comercial de referência.
Durante o período de domínio holandês (1630-1654), a região ganhou ainda mais importância, inclusive monetária. Após a retomada portuguesa, a necessidade de moeda corrente para suprir o intenso comércio e o pagamento de tropas e tributos motivou a instalação de uma casa de cunhagem na cidade.
2.2 Criação da Casa Cunhadora de Recife
Para resolver os problemas de escassez de moeda e garantir o controle fiscal da Coroa sobre as riquezas locais, a instalação da Casa Cunhadora de Recife foi autorizada no início do século XVIII, tendo operado em caráter emergencial e estratégico, com foco na cunhagem de moedas de prata.
3. Funcionamento e Estrutura
3.1 Funções Principais
A Casa Cunhadora de Recife tinha como atribuições:
-
Receber prata fundida ou em lingotes provenientes do comércio local e impostos.
-
Cunhar moedas oficiais, obedecendo aos padrões definidos pela Coroa Portuguesa.
-
Substituir moedas estrangeiras ou antigas, que eram retiradas de circulação.
-
Evitar a escassez monetária que poderia prejudicar o comércio e os negócios coloniais.
3.2 Estrutura Administrativa e Operacional
Embora existam poucos registros documentais sobre suas instalações físicas, é certo que contava com:
-
Oficinas de fundição e cunhagem.
-
Armazéns para o armazenamento de metais e moedas.
-
Equipe técnica e administrativa, composta por ensaiadores, ourives e funcionários régios, supervisionados por oficiais enviados pela Coroa.
4. Moedas Produzidas
A Casa Cunhadora de Recife destacou-se principalmente pela cunhagem de moedas de prata, necessárias para atender ao comércio regional e às transações cotidianas.
4.1 Moedas de Prata
Entre as moedas cunhadas em Recife, destacam-se:
-
Tostões (100, 200, 400 réis).
-
Algumas emissões pontuais de 600 réis e 800 réis, de acordo com a necessidade local.
-
As moedas ostentavam o brasão da Coroa Portuguesa e marcas distintivas da casa cunhadora.
4.2 Moedas de Cobre (Eventuais)
Para suprir o troco e pequenas transações comerciais, há registros eventuais de cunhagem de moedas de cobre, como 10 e 20 réis.
5. Importância Econômica e Fiscal
A Casa Cunhadora de Recife cumpriu papel estratégico no controle econômico e fiscal da Coroa:
-
Facilitava o comércio regional, evitando a escassez de moeda.
-
Reforçava a arrecadação tributária, uma vez que só moedas oficiais poderiam circular legalmente.
-
Impediam a proliferação de moedas estrangeiras ou clandestinas, que eram comuns no litoral brasileiro.
-
Atendia à demanda do mercado açucareiro e mercantil do Nordeste, um dos mais ativos da colônia.
6. Encerramento das Atividades
Com a centralização da cunhagem no Rio de Janeiro e a melhoria dos meios de transporte e abastecimento de moeda nas regiões, a Casa Cunhadora de Recife teve suas atividades encerradas. Embora sua operação tenha sido relativamente breve, seu impacto foi significativo no contexto regional.
A data exata de encerramento não é precisada, mas os registros indicam que as atividades foram descontinuadas antes do final do século XVIII, com as últimas emissões sendo absorvidas pelas casas da moeda centralizadas.
7. Legado Histórico
A Casa Cunhadora de Recife ocupa um lugar relevante na história monetária brasileira:
-
Reflete a importância econômica e política da região nordeste na colônia.
-
Demonstra a capacidade administrativa da Coroa em descentralizar momentaneamente a produção monetária para atender demandas regionais.
-
Suas moedas, hoje raras, são cobiçadas por numismatas e representam importante testemunho da circulação monetária e do controle fiscal na colônia.
8. Conclusão
A existência da Casa Cunhadora de Recife evidencia como a dinâmica econômica da colônia exigiu soluções locais para questões monetárias e fiscais. Embora temporária, sua atividade deixou marcas na história econômica de Pernambuco e na numismática brasileira, sendo um capítulo relevante do nosso passado colonial.
Comentário