
Casa Cunhadora de Mariana (Minas Gerais)
1. Introdução
A Casa Cunhadora de Mariana foi uma das mais importantes oficinas monetárias regionais do período colonial brasileiro, instalada na Capitania de Minas Gerais durante o auge do ciclo do ouro. Sua criação esteve diretamente relacionada às demandas fiscais e econômicas da região mineradora e aos interesses da Coroa Portuguesa em controlar a circulação do ouro e garantir a arrecadação de impostos, especialmente o chamado quinto.
Este artigo apresenta um panorama detalhado sobre a origem, funcionamento, importância econômica e legado histórico da Casa Cunhadora de Mariana.
2. Contexto Histórico
2.1 A Mineração em Minas Gerais
No final do século XVII e início do século XVIII, a descoberta de importantes jazidas de ouro em Minas Gerais transformou a região em um dos principais centros mineradores da América portuguesa. Com o aumento da produção aurífera e a intensa movimentação econômica, surgiram problemas logísticos e fiscais relacionados ao transporte do ouro em pó e à escassez de moeda circulante.
Para solucionar essas questões, a Coroa Portuguesa autorizou a instalação de casas cunhadoras locais em pontos estratégicos das regiões mineradoras.
2.2 Fundação da Casa de Mariana
A Casa Cunhadora de Mariana foi criada por Alvará Régio de 13 de abril de 1748, funcionando na então Vila de Nossa Senhora do Carmo, nome oficial da atual cidade de Mariana. Era uma das várias oficinas provisórias estabelecidas para converter rapidamente o ouro extraído em moeda corrente, possibilitando o pagamento de impostos e fomentando a economia local.
3. Funcionamento e Estrutura
3.1 Instalações
A Casa de Mariana funcionava em edifício próprio, onde se realizava a fundição, pesagem, aferição e cunhagem de moedas de ouro, de acordo com os padrões régios. Utilizava equipamentos importados e mão de obra especializada, incluindo mestres de cunhagem, oficiais e escrivães responsáveis pelos registros e controle da produção.
3.2 Processo de Cunhagem
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O ouro em pó, extraído na região, era entregue na casa para fundição.
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Aplicava-se o imposto do quinto, correspondente a 20% do total.
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O restante era fundido e convertido em moedas conforme as determinações legais.
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As moedas recebiam a marca da Casa Cunhadora local (abreviatura M de Mariana) e os símbolos régios.
3.3 Período de Atividade
A Casa Cunhadora de Mariana funcionou oficialmente entre 1748 e 1753, período relativamente curto, mas de grande importância, pois atendeu à demanda de cunhagem durante o auge produtivo das minas da região.
4. Tipos de Moedas Produzidas
4.1 Metais Utilizados
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Ouro (principal)
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Prata (raramente)
4.2 Valores Emitidos
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Moedas de ouro de 4.000, 2.000, 1.000 e 500 réis
4.3 Marcação
As moedas cunhadas em Mariana traziam a sigla M, localizada normalmente abaixo do escudo ou na reverso da moeda, identificando a origem da cunhagem.
Exemplo de marca:
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MOEDA: 4.000 réis de ouro – ano 1749 – sigla "M"
5. Importância Econômica e Social
5.1 Controle Fiscal
A Casa de Mariana foi estratégica para o controle fiscal da Coroa Portuguesa, permitindo a coleta rápida do quinto e reduzindo as perdas durante o transporte do ouro até as Casas da Moeda centralizadas.
5.2 Dinamização Econômica
Facilitou as transações comerciais na região, abastecendo o mercado local com moeda circulante e promovendo a liquidez necessária ao comércio e aos negócios ligados à mineração.
5.3 Redução de Fraudes
A cunhagem oficial dificultava o contrabando e a adulteração do ouro em pó, prática comum na época, reforçando o monopólio régio sobre a atividade mineradora.
6. Encerramento das Atividades
A Casa Cunhadora de Mariana teve suas atividades encerradas em 1753, seguindo a política de centralização gradual da cunhagem de moedas. Parte dessa decisão deveu-se à diminuição da produção de ouro na região e à dificuldade de manutenção das oficinas locais diante do rigor fiscal e administrativo da Coroa.
7. Legado Histórico
Apesar de sua curta existência, a Casa Cunhadora de Mariana ocupa posição relevante na história monetária do Brasil colonial. As moedas cunhadas ali são hoje itens de alto valor histórico e numismático, frequentemente cobiçadas por colecionadores e estudadas por historiadores e especialistas em numismática.
Além disso, sua instalação evidencia a complexa dinâmica entre o poder central português e as necessidades econômicas regionais no período colonial.
8. Conclusão
A Casa Cunhadora de Mariana foi um instrumento essencial da administração colonial portuguesa, criada para resolver desafios econômicos e fiscais imediatos no coração da mineração brasileira. Sua operação eficiente durante o curto período em que funcionou deixou um importante legado histórico, cujas marcas permanecem vivas na memória numismática e documental do Brasil.
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