Nascido em São José do Rio Preto, Fernando Marques cresceu envolto em uma atmosfera de curiosidade e criação. Filho de Nelson Marques Alves (Muca) e de Maria Aparecida Marques, herdou desde cedo o olhar atento para o detalhe e a sensibilidade para o som e a imagem.
Sua infância foi marcada pela convivência com o universo da fotografia, do rádio e das projeções caseiras — uma experiência que o colocava em contato direto com as transformações tecnológicas e estéticas do audiovisual brasileiro.
Fernando não apenas observava: desmontava, consertava, testava.
Esse espírito experimental, herdado do pai, moldou sua personalidade inquieta e investigativa. A formação escolar se somou a um aprendizado empírico e autodidata, em que a curiosidade era o verdadeiro professor.
Desde jovem, demonstrou interesse por temas ligados à comunicação, história e tecnologia — campos que mais tarde se uniriam em sua trajetória como documentarista e idealizador cultural.
Nos anos 1980 e 1990, Fernando Marques iniciou sua carreira jornalística, atuando em rádio, jornal impresso e televisão. Sua produção destacava-se pelo enfoque humano: narrativas que revelavam a essência das pessoas, a memória das ruas e a identidade cultural de São José do Rio Preto.
Ao invés de se limitar à notícia factual, ele transformava o cotidiano em crônica audiovisual, registrando a vida comum como patrimônio simbólico.
Durante sua passagem por emissoras e redações locais, construiu uma reputação de jornalista de memória — alguém que não apenas relatava o presente, mas dialogava com o passado.
Essa vocação o levou a desenvolver um estilo de comunicação autoral, em que a palavra e a imagem se complementavam como formas de preservação da história coletiva.
O jornalista se tornava, aos poucos, um arqueólogo do tempo contemporâneo, capaz de transformar acontecimentos efêmeros em registros permanentes.
Com o avanço das tecnologias digitais e o acesso a novas linguagens, Fernando Marques ampliou sua atuação para o campo do cinema documental e da produção audiovisual independente.
Seu olhar técnico, aliado à sensibilidade jornalística, resultou em filmes, registros e projetos que capturam o espírito de uma cidade em constante transformação.
Entre câmeras, microfones e histórias, Fernando consolidou uma metodologia própria de pesquisa e produção: um processo que combina testemunho oral, registro histórico e memória visual.
Cada projeto é uma escavação poética, uma busca por rastros de identidade no tempo e no espaço.
A partir dessa fase, o colecionador e o jornalista se fundem no documentarista-museólogo, figura híbrida e essencial para compreender a gênese do Museu da Imagem e do Som de São José do Rio Preto.
Em 2012, a trajetória de Fernando Marques alcança um novo patamar com a fundação oficial do Museu da Imagem e do Som de São José do Rio Preto (MIS).
O projeto, nascido de décadas de acúmulo pessoal e pesquisa familiar, transformou-se em uma instituição viva, dedicada à preservação e difusão da memória audiovisual da cidade e da região noroeste paulista.
A criação do MIS não foi apenas um ato institucional, mas um gesto cultural de resistência.
Num contexto em que a efemeridade digital ameaça o esquecimento, Fernando ergueu um espaço que valoriza a permanência: um santuário da lembrança e da escuta.
Seu papel como fundador ultrapassa o campo da curadoria.
Ele atua como mediador entre o passado e o futuro, entre o analógico e o digital, entre a nostalgia e a inovação.
Sob sua direção, o MIS tornou-se também centro de formação, pesquisa e inspiração, abrindo-se a parcerias, exposições, produções e experiências educativas.
A visão cultural de Fernando Marques é guiada por uma ideia central:
“Preservar a imagem e o som é preservar a alma de um tempo.”
Para ele, o audiovisual é mais do que uma expressão artística — é um instrumento de memória coletiva, um espelho em que a sociedade se reconhece e se projeta.
Sua filosofia combina três pilares:
Memória como identidade – compreender o passado como fundamento da cultura local.
Tecnologia como ponte – usar o avanço digital para restaurar, divulgar e perpetuar acervos.
Acessibilidade como missão – tornar o conhecimento e o patrimônio disponíveis a todos, sem barreiras elitistas.
Essa visão humanista e democrática inspira não apenas o trabalho do MIS, mas uma geração de jovens comunicadores, professores e artistas que veem na memória um campo fértil para a criação.
Ao longo das décadas, Fernando Marques tornou-se referência regional na preservação da história da imagem e do som, sendo reconhecido por instituições culturais, universidades e veículos de comunicação.
Seu nome está ligado a projetos educativos, exposições temáticas, documentários e iniciativas de digitalização que ampliaram o acesso à memória rio-pretense.
Mais do que fundar um museu, Fernando formou uma mentalidade cultural: a de que cada registro — uma fita cassete, uma fotografia desbotada, uma gravação de rádio — é um fragmento da história social.
Seu legado transcende o acervo físico: está nas pessoas que, inspiradas por seu exemplo, compreendem o valor de guardar, restaurar e partilhar memórias.
A trajetória de Fernando Marques sintetiza o encontro entre vocação, persistência e amor pela memória.
De filho de fotógrafo a fundador de museu, percorreu um caminho que une o artesanal e o acadêmico, o íntimo e o coletivo.
Sua vida é um testemunho de que o patrimônio cultural não se constrói apenas com prédios ou coleções, mas com sonhos que resistem ao tempo.
O MIS de São José do Rio Preto é, assim, mais do que sua obra — é sua extensão espiritual, uma continuidade da missão de transformar lembranças em herança.
Autor do blog:
Nilton Romani