O Museu da Imagem e do Som de São José do Rio Preto — MIS Rio Preto — representa uma das mais significativas iniciativas de preservação da memória audiovisual do interior paulista.
Este Volume I da Enciclopédia do MIS, intitulado Fernando Marques e a gênese da imagem e do som rio-pretense, dedica-se a narrar a trajetória fundadora de um idealista: Fernando Marques, documentarista, jornalista e colecionador que, ao transformar sua paixão em missão, criou um espaço singular de valorização da cultura visual e sonora da região.
Mais do que uma biografia ou um registro histórico, este volume é uma viagem pela gênese de uma ideia, pela herança familiar que a sustentou e pela persistência de um homem que transformou o acervo pessoal em patrimônio coletivo.
O MIS nasceu da memória — não apenas das imagens que se projetam na tela, mas das histórias que resistem no tempo, nos objetos, nas vozes e nos sons que definem a identidade rio-pretense.
O MIS Rio Preto ocupa um lugar simbólico e pioneiro na paisagem cultural da cidade.
Em um território tradicionalmente reconhecido pela força das artes cênicas e musicais, o museu surge como o primeiro espaço estruturado a dedicar-se integralmente à preservação da história da imagem e do som, constituindo-se em um museu de memória tecnológica e sensorial.
Sua criação marca uma virada no modo como Rio Preto se reconhece enquanto produtora e guardiã de narrativas visuais.
O MIS não apenas exibe objetos; ele reconstrói experiências, convidando o visitante a ouvir os ecos do rádio antigo, ver a luz tremular do projetor e compreender a evolução da linguagem audiovisual como parte da própria formação cultural da cidade.
Toda instituição de memória nasce de um gesto pessoal.
No caso do MIS, esse gesto é o de Fernando Marques, que desde a juventude dedicou-se a colecionar, restaurar e preservar equipamentos e registros sonoros herdados de seu pai, Nelson Marques Alves (Muca) — fotógrafo e cinegrafista pioneiro da região.
O que começou como um arquivo familiar transformou-se em um acervo histórico de grande relevância, reunindo peças, filmes, fotografias e discos que testemunham um século de evolução tecnológica.
A memória individual, ao ser compartilhada, torna-se memória coletiva.
A trajetória de Marques exemplifica esse princípio: o desejo de manter viva a lembrança do pai e das primeiras câmeras Super 8 converteu-se em um projeto que hoje resguarda a memória de toda uma comunidade.
Assim, o MIS é, simultaneamente, um museu e uma biografia coletiva, um espaço onde a história pessoal se dissolve na história pública.
Este volume foi estruturado segundo o método MVBC (Memória, Visibilidade, Bibliografia e Contextualização), o mesmo adotado na Enciclopédia dos Museus Brasileiros, visando sistematizar a informação e fortalecer a identidade institucional do MIS.
A abordagem integra:
Memória – levantamento e análise de depoimentos, entrevistas e registros pessoais do fundador e colaboradores;
Visibilidade – organização cronológica dos fatos e dos marcos institucionais da fundação;
Bibliografia – consulta a fontes jornalísticas, sites oficiais, relatórios e arquivos pessoais;
Contextualização – articulação entre a história local e o panorama nacional da preservação audiovisual.
As principais fontes utilizadas incluem o site oficial de Fernando Marques, matérias publicadas nos jornais Diário da Região e DLNews, entrevistas com o fundador, registros do acervo pessoal e documentos de catalogação produzidos entre 2012 e 2024.
Esses materiais foram cruzados com informações obtidas em visitas técnicas e observações diretas dos espaços expositivos.
O objetivo deste volume é reconstruir o processo de nascimento do MIS, desde as raízes familiares até a consolidação de uma instituição cultural autônoma.
Busca-se compreender o papel do indivíduo como guardião da memória social e registrar o percurso de formação do acervo inicial, que hoje constitui um repositório fundamental para o estudo da história da imagem e do som no interior paulista.
Mais do que narrar uma fundação, este livro pretende inspirar novos guardiões da memória, demonstrando que o patrimônio cultural não nasce apenas de políticas públicas, mas do olhar persistente de quem reconhece valor onde outros veem apenas objetos antigos.
Os capítulos seguintes aprofundam os elementos centrais da origem do MIS:
Capítulo 2 apresenta as raízes familiares e a herança técnica de Nelson Marques Alves (Muca);
Capítulo 3 narra a trajetória pessoal e profissional de Fernando Marques;
Capítulo 4 contextualiza o cenário audiovisual rio-pretense e as transformações tecnológicas;
Capítulo 5 detalha a fundação do museu e os primeiros anos de funcionamento;
Capítulo 6 a 8 abordam o acervo inicial, depoimentos, bastidores e a linha do tempo ilustrada.
Nilton Romani