O planejamento arquitetônico do Museu de Valores do Banco Central do Brasil (MVBC) foi concebido como parte de uma visão institucional mais ampla, que unia função, estética e segurança. Instalado no edifício-sede do Banco Central, em Brasília, o projeto museológico foi estruturado para representar os valores de modernidade, transparência e estabilidade que caracterizam a política monetária do país.
O projeto arquitetônico do edifício, idealizado pelos arquitetos Gian Carlo Gasperini e Mário Flores, seguiu os princípios modernistas da capital federal. A fachada austera e vertical do Banco Central, em concreto armado, traduzia a solidez financeira da instituição — uma mensagem visual que o museu incorporou em seu próprio espaço expositivo.
A ambientação do MVBC foi pensada para equilibrar tecnologia e acessibilidade, com destaque para:
Espaços amplos e modulares, permitindo a alternância entre exposições permanentes e temporárias;
Controle rigoroso de temperatura e umidade, essencial à conservação de metais, papéis e pigmentos;
Iluminação difusa e direcionada, para proteger as peças sensíveis à luz direta;
Circulação fluida, incentivando a visita autoguiada e educativa.
Cada área foi planejada para favorecer a narrativa cronológica da história monetária, transformando o percurso do visitante em uma linha do tempo da economia brasileira.
O MVBC foi idealizado em consonância com o plano urbanístico de Lúcio Costa e a linguagem arquitetônica de Oscar Niemeyer, dialogando com o conjunto simbólico da capital.
Localizado no Setor Bancário Sul, o museu integra o eixo institucional da cidade, ao lado de edifícios representativos do poder econômico e político.
O ambiente interno do museu faz uso de materiais nobres e discretos — granito, vidro e aço —, reforçando o contraste entre o valor histórico dos objetos e o caráter contemporâneo do espaço.
A disposição dos ambientes também seguiu a lógica de Brasília: horizontalidade funcional e monumentalidade racional.
Desde sua reinstalação em Brasília (1981), o MVBC estruturou um circuito de exposições permanentes que narram a trajetória do dinheiro e da economia brasileira.
Essas exposições constituem a espinha dorsal do museu, organizadas em módulos temáticos:
Exposição inaugural e principal do museu, apresenta a evolução dos meios de pagamento, desde o escambo e o ouro em pó até o Plano Real.
Entre as seções destacam-se:
Período Colonial: moedas de cobre e prata cunhadas em colônias portuguesas;
Império: cédulas do Tesouro Nacional e moedas de ouro;
República Velha e Era Vargas: reformulações do sistema monetário;
Modernização Econômica: notas do Cruzeiro, Cruzado e Real;
Futuro do Dinheiro: abordagens sobre meios eletrônicos e moedas digitais.
Com barras, pepitas e instrumentos de pesagem, essa mostra apresenta o papel histórico do ouro como padrão monetário e reserva de valor.
Um dos principais atrativos é a sala de barras, com vitrines blindadas e iluminação dourada que evocam os cofres do Banco Central.
Explora a intersecção entre arte e economia, destacando artistas, gravadores e desenhistas responsáveis pelas imagens das cédulas e medalhas.
A exposição valoriza o trabalho de figuras como Cândido Portinari, Humberto Cozzo e Eliseu Visconti, além de obras contemporâneas incorporadas ao acervo.
Painéis e multimídia apresentam a atuação do Banco Central na política monetária, estabilidade da moeda e controle da inflação.
Essa exposição introduz o visitante ao conceito de educação financeira, mostrando como as decisões econômicas afetam o cotidiano das pessoas.
O MVBC mantém um calendário regular de exposições temporárias que abordam temas transversais — arte, economia, cidadania e sustentabilidade.
Além disso, realiza mostras itinerantes em parceria com universidades, escolas e museus regionais, levando réplicas e materiais didáticos a várias cidades brasileiras.
Essas ações reforçam o papel do museu como instrumento de descentralização cultural e divulgação da memória econômica nacional.
A equipe técnica do museu, composta por museólogos, historiadores, economistas e restauradores, adota protocolos de conservação compatíveis com padrões internacionais (ICOM e ICCROM).
Entre as práticas implementadas estão:
Monitoramento climático diário;
Restauro de peças metálicas e papel moeda;
Catalogação digital com identificação por código QR;
Banco de dados iconográfico integrado ao sistema interno do Banco Central.
A curadoria busca preservar a autenticidade histórica das peças e, ao mesmo tempo, contextualizá-las em exposições que dialogam com temas contemporâneos.
O planejamento expositivo inclui recursos de acessibilidade, como:
Legendas em braile;
Audioguias em português e inglês;
Mapas táteis e rampas de acesso;
Espaços interativos com vídeos educativos e jogos sobre economia.
Essas iniciativas refletem o compromisso do MVBC com a democratização do conhecimento e a inclusão cultural.
O conjunto de soluções arquitetônicas e museográficas do MVBC demonstra a harmonia entre forma, função e significado.
Cada sala e vitrine foi planejada para comunicar a ideia de valor — histórico, econômico e simbólico —, fazendo do espaço um prolongamento da missão institucional do Banco Central.
O resultado é um museu que se impõe como referência em museologia econômica, ao mesmo tempo esteticamente elegante, funcional e educativo.
Sua estrutura serve de modelo para outros museus corporativos e financeiros do Brasil e da América Latina.
Nilton Romani