A transferência do Museu de Valores do Banco Central (MVBC) para Brasília, em 1981, representou não apenas uma mudança geográfica, mas também uma transformação institucional. O processo marcou a consolidação da capital federal como centro das decisões políticas, econômicas e culturais do país, acompanhando a reestruturação administrativa do próprio Banco Central do Brasil.
Com a inauguração da nova sede do Banco Central em Brasília em 1976, tornou-se evidente a necessidade de reunir todos os setores e unidades sob uma única estrutura.
A mudança do museu para a capital foi motivada por:
Centralização administrativa das atividades do Banco Central;
Melhoria das condições técnicas e de segurança para preservação do acervo;
Maior acessibilidade para pesquisadores, instituições e o público visitante;
Integração com o projeto urbanístico e cultural de Brasília, cidade símbolo da modernidade nacional.
A decisão foi oficialmente registrada em portarias internas do Banco Central entre 1979 e 1980, culminando com a reabertura do museu em novo endereço no início de 1981.
O novo espaço do MVBC foi instalado no térreo do edifício-sede do Banco Central do Brasil, localizado no Setor Bancário Sul (SBS), Quadra 3, Bloco B, em Brasília – DF.
O projeto arquitetônico buscou unir modernidade e funcionalidade, adaptando o ambiente à tipologia museológica contemporânea.
O edifício, projetado pelos arquitetos Gian Carlo Gasperini e Mário Flores, possuía características ideais para abrigar o acervo, como:
Controle climático e de umidade;
Sistemas de segurança avançados;
Salas expositivas modulares, que permitiam reorganizar mostras de longa e curta duração;
Auditório e áreas de apoio educativo, voltadas para palestras e oficinas;
Depósitos climatizados para peças raras e coleções sensíveis.
A reabertura oficial do museu ocorreu em 1981, com a exposição intitulada “O Dinheiro no Brasil”, atualizada e ampliada em relação à versão exibida no Rio de Janeiro.
A mostra foi organizada em módulos cronológicos, permitindo ao visitante compreender a trajetória da moeda brasileira desde o período colonial até a contemporaneidade.
Entre os destaques da inauguração estavam:
Moedas de ouro e prata do período colonial;
Cédulas do Império e da República;
Medalhas comemorativas da história política nacional;
Protótipos e ensaios de moedas produzidos pela Casa da Moeda do Brasil;
Obras de arte relacionadas ao tema da economia e do valor.
A nova sede proporcionou condições para a modernização do acervo e dos processos museológicos. O museu passou a adotar padrões técnicos de catalogação e conservação baseados em normas internacionais, além de:
Digitalizar parte dos registros do acervo;
Implementar fichas catalográficas padronizadas;
Ampliar o acervo artístico, incorporando pinturas, esculturas e gravuras de artistas brasileiros.
A partir desse período, o MVBC consolidou seu duplo caráter: museu numismático e museu de arte.
Em Brasília, o museu reforçou sua vocação educativa, criando programas de visita guiada e ações voltadas para escolas públicas e particulares.
O contato com a rede de ensino da capital federal impulsionou a criação de:
Oficinas sobre economia e cidadania;
Catálogos didáticos ilustrados;
Cursos e palestras sobre história monetária e educação financeira.
Essas iniciativas transformaram o MVBC em um centro de difusão cultural alinhado à missão pedagógica do Banco Central.
A transferência consolidou o Museu de Valores como um dos principais espaços museológicos do país, ao lado do Museu Nacional e do Museu Histórico Nacional.
O novo endereço em Brasília ampliou sua visibilidade e sua integração com o circuito cultural da cidade, participando de eventos como:
Semana Nacional de Museus;
Primavera dos Museus;
Mostras temáticas do Banco Central;
Parcerias com o Itamaraty, Casa da Moeda e universidades.
O período pós-transferência (1981–1990) é considerado um marco de consolidação. O museu alcançou:
Reconhecimento institucional como parte da política cultural do Banco Central;
Expansão de seu público visitante;
Desenvolvimento de um acervo com valor histórico, artístico e documental inestimável;
Projeção nacional como referência em museologia econômica e financeira.
A mudança para Brasília não foi apenas logística — foi o início de uma nova etapa, na qual o MVBC se firmou como símbolo da educação financeira e da memória monetária do Brasil.
Autor do blog:
Nilton Romani