A moeda não foi apenas um meio de troca durante o período colonial e imperial brasileiro; ela cumpriu também um papel político estratégico, refletindo a soberania da Coroa e, posteriormente, do Império, bem como a construção de uma identidade nacional.
Desde a fundação da Casa da Moeda em Salvador (1694), as moedas tinham função política explícita:
Autonomia econômica: ao produzir moedas locais, a colônia dependia menos de moedas estrangeiras, fortalecendo a autoridade da Coroa.
Controle territorial: o design das moedas exibindo o escudo de Portugal afirmava a presença política da metrópole no território colonial.
Prevenção de falsificação e contrabando: a cunhagem oficial ajudava a garantir que apenas moedas autorizadas circulassem, consolidando o controle do Estado sobre o comércio e tributos.
Com a Independência em 1822, a Casa da Moeda passou a cunhar moedas que refletiam a nova ordem política:
Moedas com D. Pedro I e o brasão imperial simbolizavam a autoridade do Império.
Alegorias em moedas, como justiça, agricultura e navegação, transmitiam valores políticos e econômicos do Estado brasileiro.
Durante o reinado de D. Pedro II, a moeda tornou-se instrumento de legitimidade, consolidando a imagem de um Brasil moderno e organizado.
Cada efígie e cada legenda transmitiam mensagens políticas sutis, reforçando a ideia de um Estado coeso.
Além do poder político, a moeda contribuiu para a construção da identidade nacional:
Símbolos como o cruzeiro do sul, adotado na República (1889), representavam o território e a geografia do país.
A escolha de personagens, brasões e alegorias refletia valores culturais, históricos e civis, criando uma narrativa visual acessível a todos os cidadãos.
A circulação da moeda permitia que a soberania e identidade do Brasil fossem tangíveis, literalmente nas mãos da população.
A moeda política teve efeitos além do governo:
Tornou-se referência para a população sobre quem detinha o poder.
Educava visualmente os cidadãos sobre símbolos nacionais e mudanças de regime.
Serviu como instrumento de propaganda e consolidação do Estado brasileiro.
O uso da moeda como instrumento político e de identidade permaneceu relevante até o final do período imperial, influenciando:
O design de moedas republicanas, mantendo a tradição de símbolos nacionais.
A valorização da moeda como documento histórico, preservado em coleções e museus.
O conceito de moeda como expressão cultural e política, que ainda guia decisões de cunhagem e medalhística.
Nilton Romani