Durante os primeiros séculos de operação da Casa da Moeda do Brasil, a produção de moedas era um processo artesanal, altamente dependente da habilidade dos mestres-artífices. A cunhagem manual não apenas moldava o metal, mas também refletia tradições técnicas e valores culturais da colônia e do Império.
A cunhagem manual envolvia etapas rigorosas e exigia precisão:
Fundição: o ouro e a prata eram derretidos em fornos e vertidos em moldes para formar barras.
Laminação: as barras eram marteladas e laminadas até atingirem a espessura necessária.
Corte dos flans: discos metálicos eram cortados das lâminas com cinzéis ou moldes circulares, resultando em peças de peso e diâmetro irregulares.
Cunhagem: os discos eram posicionados entre matrizes de aço gravadas (cunhos) e golpeados com martelo, transferindo o desenho para o metal.
Cada etapa exigia experiência manual e controle visual, já que não havia instrumentos de medição padronizados.
Os mestres-artífices eram os responsáveis pelo sucesso da produção:
Dominavam técnicas de gravação, fundição e acabamento.
Supervisionavam aprendizes, garantindo a transmissão do conhecimento técnico.
Assinavam seu trabalho de forma discreta nas moedas, por meio de marcas de lavradio, certificando autenticidade do metal.
Esses profissionais combinavam habilidade artística e precisão técnica, tornando cada moeda uma obra única.
Apesar da dedicação dos mestres, o processo apresentava limitações:
Variabilidade nas moedas: peso, diâmetro e relevo podiam variar significativamente.
Risco de falsificação: ainda que a dificuldade técnica atuasse como barreira, moedas adulteradas circulavam esporadicamente.
Produção limitada: o rendimento era restrito pela capacidade física e ritmo de trabalho dos artesãos.
A qualidade dependia, portanto, da experiência individual e da supervisão contínua.
A cunhagem manual deixou herança duradoura:
Desenvolveu tradição artística e técnica que influenciaria a medalhística e o design de moedas do Brasil imperial.
Consolidou a ideia de moeda como instrumento de soberania e identidade nacional, mais do que simples meio de troca.
Criou uma linha contínua de mestres e aprendizes, que transmitiu o conhecimento de geração em geração até a mecanização do século XIX.
No final do período colonial e início do Império, a cunhagem manual começou a ser substituída por prensas mecânicas, iniciando a transição para produção mais padronizada e industrial. No entanto, a habilidade dos mestres-artífices continuou influenciando o design e a qualidade artística das moedas por décadas.
Autor do blog:
Nilton Romani