Entrevistador: Oswaldo Rodrigues
Entrevistado: Manoel Farinhas
Publicação: NumisPlay – Sociedade Numismática Brasileira
Nesta edição especial do NumisPlay, o historiador e colecionador Manoel Farinhas compartilha, com entusiasmo e profundidade, a história do Clube Filatélico e Numismático de Santos (CFNS). Fundado em 1939, o clube é um dos mais antigos e relevantes do Brasil, tendo promovido ao longo das décadas exposições, publicações, cunhagens e ações educativas que marcaram época.
A conversa conduzida por Oswaldo Rodrigues revela, além da história institucional, as memórias pessoais de um tempo de descobertas, formação e amizade através da numismática.
O CFNS teve sua origem formal como Núcleo Filatélico de Santos, em 11 de outubro de 1939. Em 1941, passa a se chamar Clube Filatélico de Santos, e finalmente, em 1943, adota o nome atual, incorporando oficialmente a numismática. A história do clube está marcada por grandes eventos filatélicos e numismáticos, entre eles a célebre Sampex 1949, que homenageou o centenário de nascimento de Rui Barbosa.
A série de exposições Sampex (Santos Philatelic and Numismatic Exposition) marcou época. A edição de 1949 teve medalhas cunhadas em prata, bronze e outros metais, além da produção de barras numeradas em prata, cuidadosamente embaladas em estojos — verdadeiras joias da memória colecionista.
Também foram criadas peças carimbadas sobre moedas de 960 réis e 2.000 réis, todas com certificados. Essas cunhagens comemorativas, feitas com zelo artístico e histórico, são hoje altamente valorizadas.
O CFNS se destacou por desenvolver sua própria medalhística institucional. Medalhas como as da segunda Sampex, em 1955, celebrando o aniversário de Santos, ou da terceira, em 1956, em homenagem a Santos Dumont e ao Congresso Brasileiro de Turismo, são exemplares de alto nível técnico e simbólico.
Além disso, o clube elaborou carimbos obliteradores, medalhinhas comemorativas e, com frequência, concedia prêmios físicos aos expositores, reforçando o prestígio dos encontros.
O clube passou por um período de inatividade entre os anos 1970 e 1980. Foi reativado em 11 de outubro de 1985, com nova geração de colecionadores, entre eles o próprio Manoel Farinhas. Nessa fase, destacou-se a promoção de encontros, cursos e exposições conjuntas entre numismatas e filatelistas.
Destaca-se a medalha da reabertura do clube, em 1986, dedicada ao Padre Bartolomeu de Gusmão — um exemplo de como o CFNS une temas históricos nacionais à prática numismática local.
Durante a reorganização, o CFNS se tornou um polo de formação. Jovens estudantes frequentavam as reuniões semanais, participavam de minicursos sobre moedas e selos e se engajavam na produção do boletim informativo do clube.
Segundo Farinhas, esse espírito de união e aprendizado coletivo “formou não apenas colecionadores, mas também amizades duradouras e uma geração comprometida com a preservação da memória”.
O CFNS retomou a tradição das cunhagens comemorativas em 2010 e 2011, com carimbos aplicados sobre moedas antigas, em tiragens limitadas, com o apoio da Sociedade Numismática Brasileira.
Contudo, Manoel Farinhas propõe uma reflexão crítica sobre o carimbo em moedas históricas. Reconhecendo o valor simbólico das cunhagens comemorativas, alerta para o risco de danificar peças raras e de alta conservação. Defende que “a memória pode ser celebrada sem ferir o patrimônio original”.
A entrevista traz ainda considerações sobre o papel dos clubes e das sociedades numismáticas na formação ética e técnica dos colecionadores. Farinhas sugere que, além de atrair crianças, é fundamental investir nos adultos iniciantes, oferecendo formação continuada, orientação bibliográfica e espaços de troca entre gerações.
Manoel Farinhas nos oferece um retrato apaixonado, detalhado e honesto do Clube Filatélico e Numismático de Santos. Seu trabalho como historiador, educador e curador da memória do clube revela que colecionar é, sobretudo, preservar e partilhar história.
O CFNS é, sem dúvida, um exemplo de resiliência e vocação cultural — um espaço onde a numismática encontra significado coletivo e formação cidadã.
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