Na série de entrevistas promovidas pela Sociedade Numismática Brasileira (SNB), a história de Márcia Batista se destaca por sua autenticidade, paixão e força de mobilização no extremo norte do Brasil. Diretamente de Macapá (AP), ela nos mostra como a numismática pode unir memória, educação, afeto e protagonismo feminino.
Como muitos colecionadores, Márcia começou cedo, ainda criança. Fascinada por objetos de banca — figurinhas, palitos, embalagens — já demonstrava o gosto por organizar, catalogar e proteger. Mas foi nos anos 1990, com uma coleção de fascículos de banca de revista que trazia moedas internacionais, que tudo começou a ganhar forma.
“A minha primeira moeda foi uma de prata, vinda com um fascículo. Era linda, tinha brilho, e aquilo me pegou.”
Essa moeda, que ela guardou com zelo (e até tentou limpar, como muitos iniciantes), marcou o nascimento de sua trajetória colecionista.
Márcia relata que a transição entre “ajuntadora” e colecionadora consciente veio com o contato com outros numismatas, como o amigo Ailton, atual presidente da associação local, e a referência nacional Mariana Campos, que a apresentou ao universo das moedas flor de cunho, patinas e provas.
“Foi com o olhar atento de outros colecionadores que eu entendi o valor de cada detalhe. Passei a estudar mais e organizar melhor.”
Hoje, Márcia mantém foco nas moedas brasileiras, especialmente nas do século XIX e nas ligadas à República do Cunani, além de medalhas históricas do Amapá e itens educacionais utilizados em eventos culturais.
Uma das grandes paixões de Márcia é o estudo da República do Cunani, território autodeclarado independente no fim do século XIX, entre o Brasil e a Guiana Francesa.
“Eles criaram selos, moedas, uma bandeira e até um presidente — que nunca pisou aqui. Isso é parte da história do Amapá e do Brasil.”
Ela coleciona moedas, selos e documentos dessa república esquecida, contribuindo para resgatar um capítulo pouco explorado da história nacional. Seu acervo inclui publicações raras e até notas simbólicas utilizadas em feiras culturais da região.
Em um estado geograficamente afastado dos grandes centros colecionistas, Márcia foi peça fundamental na fundação da Associação Numismática Amapaense, que completou dois anos e tem sede no Marco Zero do Equador, símbolo geográfico de Macapá.
“Aqui, tudo começou com um grupo de WhatsApp. A união e o desejo de fazer algo maior nos levaram a criar a associação.”
A associação promove encontros, exposições, eventos em shoppings e ações educativas em escolas. Um dos grandes orgulhos de Márcia é o grupo de colecionadores mirins, hoje com cerca de 12 crianças associadas, que recebem formação desde cedo com oficinas, brindes e incentivo ao estudo.
A paixão de Márcia cresceu tanto que se transformou em iniciativa comercial. Ela fundou a primeira loja numismática do Amapá, a Cunani Numismatique, localizada em shopping, tornando o acesso a materiais e informações mais fácil para novos colecionadores da região.
“A gente sabe que o frete é caro, o acesso é difícil. Então centralizamos, compramos juntos e criamos um ponto de encontro.”
Hoje, a loja está sob a gestão do presidente da associação, mas continua sendo um polo de troca, apoio e disseminação da cultura numismática no estado.
Um dos maiores sonhos de Márcia já começou a sair do papel: o projeto de levar numismática para escolas públicas.
“Já fizemos ações em escolas de Macapá. Levamos moedas, explicações, e cada criança saiu com uma peça. Assim se planta um colecionador.”
Ela já iniciou a escrita do projeto formal e espera levá-lo a toda a rede estadual, formando novas gerações com sensibilidade histórica e espírito investigativo.
Márcia organiza suas moedas com muito zelo, usando cápsulas, fichários próprios, folhas especiais e materiais certificados. Também dedica tempo a estudar: lê catálogos, assiste vídeos, participa de grupos e consome conteúdo da SNB.
“Mais do que acumular, o importante é entender o que se tem. E isso só vem com estudo.”
Seu acervo inclui desde medalhas raras da era da mineração do manganês no Amapá até moedas flor de cunho contemporâneas e exemplares únicos de provas brasileiras.
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