Biografia
MaÃlson Ferreira da Nóbrega é um economista brasileiro. Foi ministro da Fazenda no governo de José Sarney, durante o perÃodo de hiperinflação em fins dos anos 1980. É casado com Rosa Dalcin e tem cinco filhos.
Vida profissional
Funcionário do Banco do Brasil desde 1963, Nóbrega formou-se em economia em 1974, pela Faculdade de Ciências Econômicas Contábeis e de Administração do Distrito Federal (CEUB).[6] Em fins dos anos 1970, começou a fazer carreira no Ministério da Fazenda, tendo assumido várias postos proeminentes[5] até ser nomeado ministro da Fazenda em 6 de janeiro de 1988, após a renúncia de Luiz Carlos Bresser Pereira.[7]
No Ministério da Fazenda
Ao assumir, Nóbrega afirmou que não descuidaria "em nenhum momento, do controle da inflação", que não haveria nenhum pacote econômico ou "medidas heroicas", e que tentaria renegociar a dÃvida externa brasileira com os credores internacionais em condições tão favoráveis quanto à s obtidas pelo México. Rapidamente, contudo, tornou-se claro que não seria capaz de cumprir nenhuma destas promessas.[8] Já em 2 de fevereiro de 1988, o então senador Fernando Henrique Cardoso questionava no Congresso Nacional a retomada dos pagamentos da dÃvida externa (após a moratória de 1987) sem que houvesse um acordo definitivo firmado com os credores.[9] Finalmente, em 23 de agosto de 1988 o Brasil fechou um acordo com o FMI pelo qual teria à disposição US$ 1,4 bilhão (do qual recebeu efetivamente US$ 477 milhões).[7][10]
Nóbrega havia declarado que faria uma polÃtica econômica "feijão com arroz", sem "soluções miraculosas", realizando somente ajustes pontuais para evitar uma hiperinflação.[8] Todavia, o ano de 1987 que havia terminado com uma inflação acumulada em 415,87%, foi amplamente superado pelo Ãndice de 1.037,53% ao final de 1988.[11] Tornou-se claro que, mais uma vez, o governo Sarney teria que lançar mão de outro "pacote econômico heterodoxo". Este efetivamente surgiu em 15 de janeiro de 1989 e recebeu o nome de "Plano Verão".[12]
O Plano Verão
O pacote econômico conhecido como "Plano Verão" foi o quarto e último do governo Sarney, e tinha como objetivo principal controlar a escalada inflacionária num ano eleitoral.[13] Para isso, foi criada uma nova moeda, o cruzado novo (que valia 1.000 cruzados velhos), houve uma desvalorização de 14% da moeda nacional perante o dólar, e preços e salários foram congelados.[12][14] Como os seus antecessores, o Plano Verão revelou-se um quase completo fracasso. MaÃlson da Nóbrega admite que seus objetivos não foram atingidos, mas que outras medidas que deveriam ter sido adotadas para que o plano obtivesse êxito, não foram aprovadas pelo Congresso brasileiro. Entre elas, a demissão de funcionários públicos sem estabilidade, extinção de órgãos públicos e um amplo programa de privatizações.[15] Estas medidas foram posteriormente adotadas nos governos neoliberais de Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso, embora não tenham se revelado particularmente eficazes na redução do déficit público.[16][17][18]
Além de sua inocuidade como instrumento de controle da inflação, alega-se que o Plano Verão e similares (Plano Bresser de 1987 e os Planos Collor 1, de 1990, e Collor 2, de 1991),[19] teriam causado prejuÃzos à s pessoas que na época possuÃam cadernetas de poupança, pois os Ãndices de correção monetária foram alterados. No caso do Plano Verão, as perdas foram estimadas em cerca de 20,37% sobre os rendimentos em fevereiro de 1989.[20] Todavia, a Confederação Nacional do Sistema Financeiro brasileiro não somente contesta a ideia de que os poupadores teriam sido prejudicados, como afirma que as instituições financeiras não se apropriaram do dinheiro expurgado das contas dos clientes, já que qualquer excesso de liquidez é recolhido compulsoriamente ao Banco Central.[21] Em 2013, o Supremo Tribunal Federal (STF) começou a avaliar o caso, para definir se houve prejuÃzos - e quem pagará por eles.[22]
Consultorias
O ano de 1989 veria a hiperinflação atingir a marca histórica de 1.782,85%.[11] Em março de 1990, o presidente eleito, Fernando Collor de Mello, deu posse à nova ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Mello. Logo após a posse, MaÃlson da Nóbrega mudou-se para São Paulo onde começaria quase imediatamente a trabalhar como consultor financeiro (não havia um perÃodo de "quarentena" para autoridades recém-saÃdas de cargos ministeriais). Com um de seus ex-subordinados, Cláudio Adilson Gonçalez, e Celso Luiz Martone, montou a MCM Consultores Associados, da qual faria parte até 1995.[5]
Em 1997, MaÃlson da Nóbrega começaria a estruturar a Tendências Consultoria Integrada, juntamente com Nathan Blanche e Gustavo (Jorge Laboissière) Loyola, ex-presidente do Banco Central (e ex-sócio da MCM).[5] A expertise de ambos na área pública fez com que a Tendências (ao lado da MCM) se tornasse uma das principais consultorias econômicas brasileiras, tendo como clientes grandes "players" do mercado financeiro e instituições que movimentavam aplicações especulativas de alto risco, conhecidas informalmente como "fundos tarja preta".[23] Em janeiro de 1999, baseados nos relatórios do MCM e do Tendências, que previam uma desvalorização do real apenas em fevereiro, os "tarja preta" Marka e FonteCindam foram à bancarrota - mesmo tendo recebido um polpudo pacote de ajuda do Banco Central, presidido por Francisco (Lafaiete de Pádua) Lopes.[24] Naquele que se transformaria num dos grandes escândalos financeiros do governo Fernando Henrique Cardoso, evidenciou-se que a simples presença de ex-autoridades financeiras numa consultoria não era garantia de lucro certo.[25][26]
Todavia, o caso Marka/FonteCindam não arranhou o prestÃgio de MaÃlson da Nóbrega ou de sua consultoria. Articulista da "Folha de S. Paulo" desde 1998, em 2000 ele se mudaria para o "Estado de S. Paulo", e a partir de 2005 começaria a escrever quinzenalmente para a revista semanal "Veja".[5] Em 2012, além de continuar a ser sócio da Tendências e um dos palestrantes mais requisitados no Brasil (cerca de 90 apresentações por ano, quase sempre sobre análise da conjuntura polÃtico-econômica), MaÃlson da Nóbrega era ainda membro do conselho de administração de sete empresas no Brasil e no exterior (entre elas, Grendene, TIM, Rodobens e Cosan).[27]
Filmes e série de TV
Em 2013 o documentário "O Brasil Deu Certo. E Agora?" foi lançado nos cinemas de oito cidades brasileiras, permanecendo em cartaz por onze semanas ao todo. Em 2014 foi lançado no Netflix. Idealizado por MaÃlson da Nóbrega e escrito e dirigido por Louise Sottomaior, o filme aborda a conquista da estabilidade polÃtica e econômica no Brasil e os desafios ao crescimento do paÃs. Com depoimentos de três ex-presidentes da república (Sarney, Collor e FHC), sete ex-presidentes do Banco Central e 13 ex-ministros de Estado,[28] não contou com as presenças do ex-presidente Lula, da então presidente, Dilma Rousseff, e dos ex-ministros da Fazenda Antônio Palocci e Guido Mantega. Segundo MaÃlson, todos foram convidados, mas preferiram não participar.[29] Em 2015 idealizou a série de TV 'Economia Brasileira - a história contada por quem a fez', escrito e dirigido por Louise Sottomaior e exibido no Canal Futura e na TV Cultura. Em dez episódios, a série conta a trajetória do paÃs desde 1500, a partir do ponto de vista econômico. Em 2016 foi lançado nos cinemas o filme 'Brasil Rico - uma discussão sobre prosperidade'. Idealizado por Nóbrega e escrito e dirigido por Louise Sottomaior, o documentário discute as prioridades e perspectivas para o paÃs, com entrevistas com mais de 40 personalidades da economia e da polÃtica brasileira.
Controvérsias
Nóbrega e o "Cidadão Kane"
Em sua autobiografia, "Além do Feijão com Arroz", MaÃlson da Nóbrega confirma que sua efetivação no cargo de ministro da Fazenda teve o aval do poderoso empresário das telecomunicações Roberto Marinho (o qual, segundo Nóbrega, lembraria William Randolph Hearst, ou, mais precisamente, o "Cidadão Kane"). O presidente Sarney orientou Nóbrega a conversar primeiro com o "Dr. Roberto" no escritório deste, em BrasÃlia. A conversa, que Nóbrega descreve como uma "sabatina", ocorreu na tarde de 5 de janeiro de 1988. Marinho aparentemente ficou satisfeito com o que ouviu, pois ao voltar ao ministério, por volta das 18h (10 minutos após ter deixado o escritório da Rede Globo), Nóbrega foi cumprimentado pela secretária, que acabara de ouvir no plantão do Jornal Nacional a confirmação da efetivação dele como ministro da Fazenda. Em seguida, recebeu um telefonema de Sarney, convocando-o ao Palácio do Planalto para tomar posse do cargo.[30][31][32][33]
Depois da posse, Nóbrega e o "Cidadão Kane" encontraram-se para um almoço, desta vez no Rio de Janeiro, na sede da TV Globo. Marinho teria confidenciado a Nóbrega que indicara dois outros ministros de Sarney: Antônio Carlos Magalhães, das Comunicações, e Leônidas Pires, do Exército. Segundo Nóbrega, "não sei se era verdade, nem se ele exibia que era poderoso".[30]
Embora houvesse começado de forma cordial, a relação entre Nóbrega e Marinho azedaria nos meses seguintes. O primeiro problema foi o cancelamento de um programa governamental de incentivo às exportações, no qual Roberto Marinho pretendia vender um bilhão de dólares em casas pré-fabricadas. O programa foi cancelado, mas o interesse de Marinho acabou sendo divulgado pelo "Jornal do Brasil", principal concorrente de "O Globo" (jornal dos Marinho) no Rio de Janeiro. Irritado, Roberto Marinho pressionou o presidente Sarney para que Nóbrega desmentisse a informação. Mesmo após Nóbrega ter se recusado a dar um desmentido formal, Marinho fez divulgar no principal noticioso da TV Globo, o Jornal Nacional, que o desmentido havia sido dado.[30][34]
Com a escalada da hiperinflação, aumentou a pressão contra Nóbrega. Ele descobriu-se "demitido" pelo jornal "O Globo" na manhã de 4 de agosto de 1989 ("Inflação derruba MaÃlson", dizia a manchete),[35] e no dia seguinte o jornal afirmava que o presidente Sarney escolheria um novo coordenador para a economia.[36] Não aconteceu nem uma coisa nem outra, e Nóbrega manteve-se ministro até 18 de março de 1990, quando Zélia Cardoso de Mello assumiu o ministério da Fazenda.[30] Segundo a revista "Veja" em sua edição 1091 (9 de agosto de 1989), a ação para precipitar a queda de Nóbrega foi organizada em BrasÃlia pelo empresário e lobista Jorge Serpa, homem de confiança de Roberto Marinho.[37] Serpa foi o mesmo que em 1988 havia tentado - sem sucesso - intermediar o negócio de um bilhão de dólares em casas pré-fabricadas proposto pelo Dr. Roberto.[30]
Nóbrega vs ISTOÉ
Em 28 de abril de 1999, com o escândalo Marka/FonteCindam na berlinda, a revista semanal "ISTOÉ" publicou um editorial ("Moralização Já") onde criticava as relações "promÃscuas" entre o mercado financeiro e o poder público, evidenciado pelo fato de que autoridades monetárias passavam a trabalhar como consultores imediatamente após deixar o governo - ou vice-versa - e cita especificamente MaÃlson da Nóbrega como exemplo.[38] Em consequência, com base na Lei de Imprensa, Nóbrega entrou com uma ação contra o semanário, pedindo explicações sobre as ilações feitas no editorial.[39]
As explicações foram dadas na edição 1554 da revista, em 14 de julho de 1999. Nelas, o editor da "ISTOÉ", Domingo Cecilio Alzugaray, esclarece que tanto MaÃlson da Nóbrega quanto seu sócio Gustavo Loyola ressaltavam a expertise em órgãos públicos nos próprios currÃculos, mas que não havia nisso qualquer insinuação de que tivessem repassado informações privilegiadas aos bancos citados - tanto assim que eles foram à bancarrota.[39]